quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Procurar dentro de si o que te falta

   Acordar e rapidamente ser tomado pelo desejo de procurar algo que está nos faltando, é algo que costuma nos acontecer e exige no mínimo uma reflexão.
   Por vivermos em uma sociedade consumista e individualista, logo somos “forçados” a crer que o que nos falta é um bem material ou algo que possa ser comprado. Se aproveitam da nossa situação e até mesmo contribuem em muitos momentos para sentirmos necessidade de algo… Então compramos, compramos e compramos mais, na fissura de acalmar esse estado interno. Procuramos o tempo todo estar “ligado” à alguém, pelo Facebook, WhatsApp ou nas conversas fantasmas para lidarmos com essa falta. Em ambos os casos o consumismo aflorando, sendo no primeiro na busca cega pelo produto perfeito que nos satisfaça totalmente e no segundo procurando consumir outras pessoas.
   É justamente nesses casos que a reflexão “Procurar dentro de si o que te falta” abrem uma janela nova em nossa mente para se pensar em como estamos lidando com nós mesmos; em que medida procuramos sanar nossas necessidades com recursos próprios de nosso ser. Se busco insistentemente estar conectado a alguém, não deveria antes buscar se conectar comigo mesmo como o primeiro canal de comunicação? Na busca desenfreada por bens materiais, que tal pensar um pouco sobre a necessidade real que leva a esse objeto, validade em sua vida de uma maneira que supere o agora e se tem como satisfazer sem se tornar proprietário e nisso consequentemente se apropriar de uma dinâmica pessoal.
   Ideias e questões essas lançadas com o intuito de auxiliar o leitor ou leitora a ir além do óbvio. A começar a perceber que não só existe uma realidade externa, mas também uma realidade interna que demanda atenção e cuidado. Tentar resolver o problema da solidão ficando em meio a muitas pessoas pode parecer um caminho certo e fácil, mas que pode esconder uma armadilha, que no óbvio não é compreensível, exigindo refletir e abrir a mente para se pensar qual o sentido da solidão nesse momento da vida? Como posso tornar a presença do outro mais verdadeira e com tom de companheirismo, ao invés de se limitar em apenas “ocupar” um espaço físico-temporal com conversas vazias e alienadoras de vinculo?
conheçate ti mesmo
   O primeiro passo para quem busca atender uma necessidade ou suprir uma falta, é voltar os olhos para dentro de si e buscar compreender o porque dessa necessidade/falta. Posteriormente procurar dentro de si a resolução dessa questão. Pois não se pode tornar um bom companheiro ou ter uma vida realizável, quem projeta no outro a sua incompreensão sobre o seu mundo interno e faz do outro um mero objeto de realização de necessidades.
   A opressão desumaniza as pessoas e as relações e passa a classificar o ser humano como um objeto. Não escutar a si, não olhar para dentro de si, não sentir-se (…) são expressões de uma violência cultural terrível que ganha terreno no mais intimo do humano.
   Sem sombra de dúvida que tudo isso defendido aqui não significa desconsiderar o outro e a comunidade, alias o cuidar de si nessa perspectiva visa fortalecer o eu para concomitantemente engrandecer o nós.
   Por essa perspectiva espera-se contribuir para que o indivíduo em sua breve passagem pelo mundo não se definhe em um egoísmo e leve a vida à “empurrar com a barriga”. Mas que essas palavras sejam o nutriente de uma subjetividade forte e rica – e explicando esse rica, evoco minha mãe: rico de espírito!

Rua Conceição
Michel Cabral

domingo, 18 de dezembro de 2016

Curso de Jardinagem - Relato de uma experiência

   Após retornar das férias em julho, fui convidado à acompanhar a primeira aula do curso de jardinagem do "Projeto Parceiros da Cidade: Mãos amigas" executado pelo Ceprocamp (Centro de Educação Profissional de Campinas-SP). Não foi uma participação sem conhecimento de causa, pois desde o inicio da elaboração do projeto, estive presente no Fórum de População em Sit. de Rua, seminários setoriais, discussões no abrigo que trabalho e votações no legislativo. 
   Esse projeto começou a ser engendrado ainda em 2015, pensando na profissionalização e criação de uma oportunidade de trabalho remunerado para as pessoas em situação de rua. Era esperado que em 2016 o projeto Frente de Trabalho inicia-se em sua integralidade, mas por ser um ano eleitoral e a lei não permitir a criação de um incentivo financeiro nessa época, o mesmo foi adiado. Mesmo assim profissionais e usuários trabalharam pela realização de pelo menos o curso no momento. 
   Dificuldade e esforço marcaram todo esse projeto. Em uma aula aprendi que a arvore Ipe Amarelo costuma dar mais flores e com a cor mais viva após atravessar um período de intensa seca. Comparando com o nosso projeto, passamos por um período difícil como a seca, mas foi justamente por isso que despontamos flores maravilhosas, sendo no caso aprendizagens, experiências e vivências únicas.
   Acompanhando ao longo das aulas, fui me perguntando qual era o meu papel no espaço: De apenas um profissional que vai junto? Ou um mediador de relações, motivador e auxiliar de organização? Observando a prática e os retornos que ia tendo, fiquei com a segunda alternativa. No fundo eu estava mediando o diálogo entre os pares, "administrando" conflitos, motivando os estudantes para continuarem, refletindo sobre a experiência, auxiliando a turma em suas dificuldades. Estava sendo uma ponte necessária entre o desejo de aprender/participar e à realização/concretização.
 Olhando os estudantes estava nítido que mais que uma profissionalização, estava em cheque a construção de novos horizontes internamente a cada individuo; a auto-estima, animo e organização mental estavam sendo trabalhados, de forma indireta. Sementes sendo plantadas no coração de cada batalhador.
    Como psicólogo social e educador social, compreendo que esse fenômeno não estava se dando apenas nos estudantes, mas em todas as pessoas envolvidas. Desde a minha singela pessoa, passando pela Profa. Claúdia, pelo Coord. de projeto Toninho, até os profissionais que não estavam no dia a dia, mas apoiavam. Por isso e mais era tão importante ser sensível as intervenções adotadas. Cada pessoa tinha um significado/sentimento sendo edificado.
   A vulnerabilidade social que as pessoas em situação de rua enfrentam, como desemprego, fragilidade ou rompimento de vínculos sociais e familiares, falta de um sentido para a vida, dificuldades psíquicas e emocionais, não são exclusivos desse segmento, mas estão de forma acentuada neles. É um conjunto de fatores que influencia o indivíduo em sua ida para as calçadas. Não diferentemente, por vivermos uma sociedade opressiva, também experimentamos esses aspectos e que nos colocam em risco. Ficar em situação de rua é um acontecimento que pode ocorrer a qualquer um.
   Trabalhar e lutar pela transformação dessa realidade tão dura, envolve compreender que em certa medida, o público alvo são todas as pessoas. Uma que se encontra na rua e necessita de apoio para sua saída; e outra que ainda não estando, necessita de prevenção, que implica em cuidarmos da forma com a qual nos relacionamos, na forma como nos valorizamos, nas ideias que propagamos e no fortalecimento da comunidade.

Imagem: Peneirando areia no MIS; Ao lado de um jatoba de mais de 80 anos na Mata Sta. Genebra; No Viveiro Municipal de Arvores; E no Viveiro Municipal de flores

   A imagem acima representa o meu esforço nas aulas, sintetizando teoria e prática. A foto foi registrada em diversos locais do município de Campinas. Sendo que a estrutura proporcionada de poder estar visitando esses locais e tendo aula, proporcionou muita qualidade.
 Foram praticamente seis meses acompanhando homens e mulheres, conversando sobre o tornar-se jardineiro, falando sobre o processo de metamorfose em nossas vidas. 
   Concluo mais essa etapa do meu trabalho tendo sido reforçado o elemento psicossocial de minhas reflexões e intervenções. Essa experiencia ficará na minha biografia e entrará para a história de Campinas - SP. 

Deixo para os internautas ainda o discurso que proferi no evento da formatura na sexta-feira dia 16/12/2016. Repito um trecho da minha fala que segue no vídeo: 

"Como um buque de palavras entrego esse discurso como um muito obrigado à todos e todas!"


Rua Conceição
Michel Cabral

sábado, 10 de dezembro de 2016

No ar Rádio Pitaco

   O advento da tecnologia e dos novos meios de comunicação e acesso a informação tem exigido que os educadores do séc. XXI se mantenham atualizados e busquem em suas práticas educativas cotidianas integrar esses novos recursos. Acompanhando o desenvolvimento social e cultural de nossa sociedade, o curso de pós graduação "latu sensu" em Pedagogia Social do Unisal/Campinas-SP mantém disciplinas em estreito diálogo com as demandas sociais e com as propostas alternativas de educação. Para representar esse compromisso de formação, a disciplina de "Redes Sociais: Planejamento, Estrutura e sustentabilidade" apresenta as principais teorias e conceitos relevantes para a reflexão da temática.

Da esquerda para direita: Luci, Márcia, Rafaella, Lilian, Rosiene, Fernando, Amanda, Eliane, Michel e Odair.

   No ano de 2015 iniciou mais uma turma de pós em Pedagogia Social, sendo que apenas oito estudantes continuaram no curso, sendo: Márcia, Rafaela, Lilian, Rosiene, Fernando, Amanda, Eliane e Michel; a coordenadora de Pós em educação é a Luci e o professor da disciplina de Rede Social é o Odair (imagem acima). Março de 2017 é a previsão de encerramento dessa especialização.
   Contribuindo para a construção da memória de cada estudante, profissional e do curso, no segundo semestre de 2016, na disciplina citada, foi elaborado e produzido um áudio de radionovela. Essa obra retrata o ambiente escolar brasileiro e a mediação de um educador diante de uma discussão acerca de ditadura e o Projeto "Escola sem partido". Todos os estudantes participaram dessa produção e até mesmo foi dado um nome para a rádio, sendo Pitaco. No link abaixo é possível ouvir o áudio:



   Mais do que proporcionar a aprendizagem de novos conteúdos e de discussões valorosas para a prática profissional, essa pós possibilitou a criação de vínculos preciosos entre pessoas de diferentes formações, experiências e histórias de vida. O cotidiano de aulas, conversas, trabalhos, piquenique, restaurante, bar e confraternizações, proporcionaram o aprofundamento da reflexão sobre a importância da pedagogia social no campo social. 
   A gravação desse programa de rádio sintetizou um esforço individual de sonhadoras e sonhadores; de pessoas que acreditam e constroem um mundo sem desigualdade e opressão; em suma, de testemunhas de uma nova forma de se relacionar e construir história! 


Créditos

Estudantes de Pós em Pedagogia Social:
Amanda, Eliane, Fernando, Lilian, Márcia, Michel, 
Rafaella e Rosiene
Odair - Professor Orientador da pós em Pedagogia Social

Unisal 2016

*Qualquer uso dessa mídia deverá ser solicitado autorização ao grupo pelo e-mail: pedagogiasocial20151@gmail.com ou michel3cabral@gmail.com
**Para mais informações sobre a produção da radionovela ou contato com algum dos autores, deverá ser enviado uma mensagem para os e-mais anteriores
***Mais informações sobre a Pós em Pedagogia Social deverá procurar a secretaria academica de pós graduação do Unisal/Liceu Campinas-SP




Rua Conceição
Michel Cabral