domingo, 27 de agosto de 2017

55 anos de Psicologia no Brasil

   Nesse dia 27 de Agosto de 2017 a psicologia completa 55 anos de existência no Brasil. Como parte da comemoração está sendo realizada uma campanha nesse mês de agosto intitulada "#Psi55anos: Toda psicologia nos interessa", sendo divulgada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP).
    A lei que regulamenta a profissão de psicólogo e dispõe sobre os cursos de psicologia no Brasil é a N* 4119/1962 sancionada no dia 27 de agosto durante o governo de João Goulart. Sendo que essa lei expressa sobre a existência dos cursos de psicologia, exercício e funções privativas. Posterior a esse lei temos a N* 5766/71 sancionada durante a ditadura civil-militar pelo governo ilegitimo de Emílio Médici, que dispõe sobre a criação do Conselho Federal de Psicologia e dos sistemas de conselhos regionais, sendo que é da alçada dessa autarquia pública fiscalizar, orientar e disciplinar o exercício profissional.

Imagem de divulgação do CFP
   Para esse dia especial retomei a reflexão sobre a influência das outras pessoas no nosso desenvolvimento, sendo que apenas pela interação social, a linguagem, o pensamento, a imaginação, criatividade, ciência, filosofia (...) surgem e se desenvolvem. Ninguém torna-se humano isolado da cultura ou de outros seres humanos. Vamos nos humanizando no contato e vinculo comunitário. Vigotski compreendeu bem esse raciocínio e divulgou por meio dos livros: A Formação Social da Mente e A construção do pensamento e da linguagem.
 No Brasil uma pensadora que reiterou os ensinamentos vigotskianos é a Silvia Lane da PUC-SP com uma perspectiva sócio-histórica. Uma boa ideia explorada por ela foi com relação a infra-estrutura, referente a forma como nos relacionamentos no cotidiano, construímos cultura pela base e mantemos a super-estrura, correspondente a sociedade, economia e política. Nessa linha de racíocinio, não há opressão sem oprimidos e opressores, mantemos na base esse sistema por meio da forma como tratamos o outro: como um sujeito ou objeto.
   Ambos autores trazem contribuições importantes para se construir uma psicologia comprometida com a libertação humana. Fica as indagações para nós da psicologia: como estamos auxiliando as pessoas a concretizarem seus projetos de vida? e qual a revelancia de nossas intervenções para o fortalecimento da comunidade?

Imagem em homenagem ao 27 de agosto com a imagem dos principais teóricos





Michel Cabral
Rua Conceição
Mês folclórico 

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Quem é o morador de rua?

   Quem são as pessoas que moram na rua? Essa pergunta é corriqueira nos grandes centros urbanos e evoca as mais variadas respostas das pessoas e dos profissionais que trabalham em serviços que atendem esse público. Por razão  e do dia 19 de Agosto que foi anteontem e representa o Dia Nacional de Luta das Pessoas em Situação de Rua, esse texto propõe mediar um entendimento sobre a questão.
      A Política Nacional para população em situação de rua (Decreto n. 7053) define esse segmento como sendo caracterizado por indivíduos sem moradia convencional regular, habitando logradouros públicos ou marquises e ficando em abrigos públicos; com laços/vínculos familiares e sociais fragilizados ou rompidos; público heterogêneo e que vivenciam a miséria extrema.
     Trabalhando há mais de 2 anos em um serviço de acolhimento institucional para pessoas em situação de rua pude perceber e desenvolver um conhecimento acerca desse segmento, além de constatar o que foi apontado acima.
     São pessoas em sua maioria oriundas de bairros periféricos e que faziam parte de famílias empobrecidas e que estavam em situação de vulnerabilidade social. Antes mesmo de irem para a rua, já haviam sofrido a falta de alimento, saneamento básico e infra estrutura urbana. Famílias que não tinham acesso à educação de qualidade, serviços de saúde e de lazer e cultura.
      A violência policial ou do tráfico já estava presente no território de origem, não sendo uma novidade vivida nas ruas. Alguns relatos de execução de membros da família, ouvi da boca de pessoas que foram morar na rua.
  A baixa escolaridade representada por pessoas que não concluíram o ensino fundamental ou mesmo são analfabetas. Junto a isso soma-se a fragilidade ou inexistência de vínculos empregatícios na Carteira de Trabalho, sendo em um total de 8 meses ou pouco mais para uma pessoa com mais de 35 anos de idade.
     Sendo que podemos concluir que a causa para uma pessoa ficar em situação de rua é multifatorial, ou seja, não há uma causa só, mas várias que se somam. Além do nosso modelo social que possibilita o absurdo de haver gente morrendo de fome, frio e da falta de um teto pelas ruas.
    Não mais importante, mas que faz parte desse fenômeno é o elemento psicológico agravado pelo estar na rua, expresso no formato de sofrimento e na perda de referencia de espaço, tempo e organização da vida cotidiana. A noção do privado e público (espaço) é prejudicada por não se ter essa separação clara na rua. O tempo que em muito se pesa o horário comercial do capitalismo, deixa de ser um referencial e passa-se a ser um tempo de acordar (se a pessoa conseguiu dormir), dormir (tentar), comer (ver o que se consegue), se anestesiar das dores e emoções intensas (uso de substâncias psicoativas ´spas´) e aguardar por algo (sobrevivendo). O organizar-se para buscar um trabalho ou mante-lo, pagar as contas, cuidar de si e dos familiares e próximos, do se socializar e se entreter, fazer planos futuros, vai ficando fragilizado. 
     Isso tudo citado vai enfraquecendo a autonomia do sujeito, a sua liberdade mínima de planejar, executar e se responsabilizar pelos resultados.


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O outro é o nosso semelhante
   O isolamento social (diferente de solidão) vivido por essas pessoas vai prejudicando aos poucos a saúde de cada um. A própria maneira de conviver com o outro vai ficando prejudicada devido a experiência constante da fome, falta de um lar e violência sofrida na rua. Surge então o estado deprimido deixando a pessoa sem energia e iniciativa para as atividades; a ambivalência de emoções representado pela realidade de hora ser beneficiado por alguma coisa boa, como comida ou uma palavra amiga (suscitando a alegria) e outra pela agressão de um porrete e água fria (gerando raiva e tristeza); a própria condição da rua aumenta a agressividade do individuo, sendo um mecanismo próprio para sobreviver em um ambiente tão hostil.
    Diante disso coloca-se o risco de tanto criminalizar os moradores de rua, vendo na expressão de sua agressividade o perfil de um criminoso perigoso que precisamos excluir. E também o risco de patologizar o diferente; nisso me vem o exemplo de um morador de rua aqui do centro de Campinas que anda vestido de "Superman": mas não seria necessário se fantasiar de herói para lidar com tanta dor, privação e violação de direito, sendo um super homem para si mesmo?! Mas alguns vão chamar esse senhor de louco... Se há louco nesse mundo, não somos nós que aceitamos vermos outros humanos em condições tão sub-humanas?
    Mas mesmo tendo escrito essas linhas tentando decifrar quem são as pessoas em situação de rua, sugiro que cada um que ler esse texto, procure conversar com um na rua, buscando saber junto de um ou uma quem ele ou ela é.
Qual é a sua história? Quais são seus sonhos? Como você está se sentindo com essa conversa? Qual o principal sentimento vivenciado na rua?



Michel Cabral
Dia chuvoso, Agosto folclórico
Rua Conceição

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Por um mundo...

   ...onde moradia, alimentação, transporte, educação, saúde, lazer, cultura e esporte sejam algo efetivamente acessíveis a qualquer pessoa, independente de cor, idade, origem social. E mais ainda, sem necessidade de contribuição prévia ou pagamento, significando que a pessoa sem condicionalidade nenhuma terá o direito de usufruir de um bem ou serviço. Dessa forma vamos poder concretizar que todas as conquistas que a humanidade alcança chegue para todos os seres humanos.
   Mas aí quem paga a conta ou sustenta um sistema assim? A resposta é simples e profunda: nós. Isso significa que todas as pessoas serão responsáveis por criar e manter essa cultura de autossustentabilidade, ou seja, o individuo com sua mentalidade cotidiana terá o pensamento que mesmo acessando a priori um recurso, precisará contribuir produzindo e trabalhando em prol da coletividade e de si consequentemente (dialética). 
   Isso não exclui a individualidade devido reforçar o peso do nós e da cultura, ao contrário, valoriza verdadeiramente a individualidade, uma vez que em nosso sistema capitalista e na relações interpessoais cotidianas, o sujeito em extrema vulnerabilidade social passa como individuo invisível e suas necessidades, sentimentos, sonhos e dignidade são ignorados pelo modelo de sociedade individualista e consumista que vivemos (mantemos ou rompemos).
   Mas dar a luz a esse novo modelo de sociedade não se restringe somente as transformações sociais, econômicas e políticas no sentido macro que esperamos. Mas significa desenvolver a gestação dentro de nós de valores, hábitos, pensamentos e posturas que ultrapassem o modelo selvagem predominante e façam crescer em meio as pessoas com que nos relacionamentos uma mini sociedade de comunhão com o outro; de querer estar junto com o outro nesse mundo e de se preocupar pelo seu bem estar.
   Isso tem impactos profundos no EU de cada pessoa, na forma de cada um se ver como HUMANO e ver o HUMANO no outro. De sentir suas potencialidades artísticas, esportivas, espirituais e para o trabalho, florescerem. Em suma, o fortalecimento da autonomia do sujeito.
   Podemos falar assim de uma psicologia social da coletividade:
 - Consciência da coletividade
 - Percepção e ação na construção da Cultura da solidariedade
 - Transformação e progresso das potencialidades humanas
 - Evolução das funções psicológicas que diferenciam o humano do animal
 - Fortalecimento e aperfeiçoamento da autonomia
 - Sentir-se na medida do possível autor de sua história de vida!



MICHEL CABRAL
RUA CONCEIÇÃO