domingo, 16 de outubro de 2016

Conhecer a si como parte da descoberta existêncial

   Uma volta pela cidade, acesso à internet ou tempo em frente a TV e logo nos deparamos com o anúncio de que é necessário conhecer e ter um conhecimento, que na maioria (senão em todas as propagandas) é representado pelo conhecimento oferecido por instituições privadas. Faça faculdade disso, curso daquilo, aprenda caso contrário você não tem colocação no mercado etc são ideias divulgadas com tamanha naturalidade que geram um certo pensamento e sentimento na população.
   Primeiramente alimentam o conceito de que educação é restrito as instituições; segundo de que o saber precisa ter utilidade para o mercado; e por ultimo rejeitam uma necessidade, que ao meu ver, é primordial para as pessoas em suas vidas, que é o do autoconhecimento. Vou refletir as três dimensões que apontei mostrando as causas e implicações para a vida cotidiana.
   Difundir que a educação é limitada a quatro paredes, a uma diretriz curricular ou mesmo a um diploma, ignora o fato de que a educação é essencialmente social e está presente nas relações humanas, assim nos mostrou Vigotski em seus estudos sobre o desenvolvimento humano onde a cultura transforma o organismo em pessoa, tendo um processo de aprendizagem vivo; Paulo Freire ressaltou a função social quando nos auxiliou a pensar em uma educação presente na comunidade (daí a educação popular). Reduzir o conhecimento a instituição apenas atende a ânsia do capital em torná-la mercadoria.
   Quando se associa a ideia de que o conhecimento apenas serve ao mercado, aniquila o seu potencial de transformação dos indivíduos e da própria sociedade. Podemos pensar no idioma português na qual aprendemos ainda pequenos com as pessoas próximas (família, comunidade) e aperfeiçoamos no ambiente escolar, sendo útil na nossa vida diária para nos relacionarmos ou mesmo para pensarmos e também no mundo do trabalho. Pela própria força esse saber não se restringe a um campo. O conhecimento precisa ter sentido em nossa vida em geral e não apenas em um segmento, esse é o problemático do capitalismo que busca reduzi-lo a uma área, dessa forma empobrecendo a pessoa que o assim faz.
   E não mais importante, mas por ultimo, o autoconhecimento é desconsiderado. Quantas vezes ouvimos alguém falar da importância de conhecer a si mesmo? Voltar-se para dentro buscando entender-se , compreender sua história de vida, seus sentimentos, sonhos etc é relegado a um papel menos importante ou não é discutido pela sociedade.
   Como poderei conhecer a história de uma cidade, o saber de um instrumento musical ou os segredos de uma operação matemática, se antes, não conheço a mim mesmo? Não sei o que pode me motivar a estudar, não sei quais são meus sentimentos sobre essa cidade, desconheço em quais sonhos poderei aplicar a canção que vier a criar, ignoro os segredos que fizeram eu ser eu, sou em ultima instância alguém que quer conhecer o externo desconhecendo o interno.
   Grande risco de numa empreitada como essa minha pessoa se perder pois deixou de visualizar o mapa de si; se abater pelos desafios (que são naturais) pois não sabe de sua própria história de quedas e superações; ou mesmo confundido por um sentimento que rompe a resistência do seu olhar-se para dentro.
   Precisamos continuar procurando aprender e saber mais, participar de processos educativos, dentro e principalmente para além das instituições. Resgatar o sentido original do termo educação que remonta as comunidades primitivas. Querer conhecer o mundo em comunhão com a busca de conhecer a si mesmo!


Esse foi um pequeno ensaio sobre o saber, conhecimento, autoconhecimento e educação popular. Algo feito com a simplicidade de um ser humano contente por estar nesse mundo com seus prazeres e dores.




Michel Cabral
Rua Conceição, 16 de Outubro de 2016
Domingo à noite (Primavera)

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